Relato de um leitor: ‘quando eu descobri que eu era mais homem que todos eles.’

Depois de ler o relato sobre o bullying, resolvi te escrever para contar minha história. Desde criança eu percebi que alguma coisa era diferente em mim, nos meus primeiros anos da infância eu preferia brincar de panelinha, ainda que os adultos da minha volta me tirassem os brinquedos das mãos e me dissessem “isso é de menina”, em seguida me davam um carrinho. Lembro até hoje de pensar, “mas o que eu faço com isso? É muito sem graça, essa coisa só vai pra frente e pra trás. E olha, tá faltando uma rodinha”, cresci e logo preferia fazer amizade com meninas e ficar com elas no recreio, ainda que fosse o único menino lá, pulando amarelinha e brincando de elástico, tava lá sendo feliz.

Não demorou muito para eu ser notado pelos mais velhos. Olha lá o putinho que só anda com as meninas. Gosta de dar o cu. Gente, eu nem sabia o que era o cu ou o que era um putinho, será que era um pontinho bem pequenininho, e tão me dizendo assim porque eu sou gordinho?! Não sei. Mas não parece ser coisa boa. Fui denunciado como puto, como mariquinha, como chupa-pau, como mulher de caminhoneiro, para a diretora, a coordenadora, a professora. Nisso, eu ainda nem tinha começado a despertar minha sexualidade. Ninguém do colégio dizia ou fazia nada, o silêncio consentia tudo. Sempre me mantive afastado dos meninos porque muitos deles me perseguiam, de formas diferentes, eram, que eu me lembro, 10 meninos que me faziam bullying, chegou a tal ponto que os outros até tentavam evitar de conversar ou serem vistos comigo, porque tinham medo de serem bulinados! Despertei muito ódio nos coraçõezinhos deles.  Às vezes, uma boa alma tentava me defender, com pouco ou nada de sucesso.

Tinha medo de denunciar e escancarar tudo, porque a sensação que eu tinha era que de todas as formas ia encrespar para o meu lado. E de fato, eu tinha razão, depois terminei tendo que sair do colégio porque já não aguentava mais, e a direção ainda me culpou por tudo que me aconteceu, mas essa história eu deixo para outro relato.

Cresci. Tive o prazer de perder o contato com todos eles, e fui fazer meu destino, tomando da vida muito tapa na cara, porque eu sou cabeça-dura. Amadureci, me formei. E num momento de penumbra, A Vida resolveu me levar de volta por um breve período para a mesma comunidade que eu saí, e que pertencem os ditos cujos. Eu, formado, professor titular de faculdade estrangeira, sempre procurando aperfeiçoar meu conhecimento e a mim mesmo. Me deparo com a triste cena de quase todos eles. Ainda que quisesse, não poderia nem contar a história de um por um, porque seria repetitivo, afinal, o destino lançou as mesmas cartas para quase todos eles, e a vida resolveu me mostrar os rapazes tão superiores que me humilharam num passado. Os encontrei infelizes, quase todos divorciados, alguns trabalhando como “sócios” dos próprio pais, outros desempregados comendo o-pão-que-o-diabo-amassou, mas o mais triste, todos eles esperando que os velhos morram para pegar herança, que também não deve ser muita coisa, depois de pagar os impostos e de dividirem entre os irmãos. Por um lado, me sinto culpado de os julgar, quase em silêncio porque a cara me delata sempre, já por outro, sinto que é meu direito garantido. “Olho por olho, dente por dente.”- se dirá.

Casualidade da vida ou não, no mesmo momento que eu os enxerguei e julguei, a Vida me mandou embora dali. Dando ao putinho, novas oportunidades, expectativas e metas que nenhum deles jamais terá. Aquele que todos perguntavam o que fazia ali, que preferiam estivesse morto, que prenderam no banheiro e ameaçaram estuprar, que apedrejaram durante a educação física – saiu de casa, enfrentou a vida, trabalhou, se formou, e investiu cada centavo em conhecimento. Fui mais homem na vida que todos eles juntos. No final, o putinho era realmente puto, mas poxa, o que eles tinham a ver com isso?

Felice

A vida é incrivelmente rápida e o homem apavoradamente inconstante. Nossa necessidade de mudança mesmo quando tudo parece bem é incontrolavelmente agonizante.felicidade.
Todos temos a curiosidade como ponto de partida para a vida e vem de nascimento. Quando chegamos à vida adulta, obviamente, a curiosidade continua e quando mal usada, pode trazer sérios danos à saúde (literal e filosoficamente)! Tudo começa com um “e se…” e pronto. A curiosidade já está instalada e como brinde é acompanhada da dúvida, da insegurança e do medo. As escolhas, quase sempre são analisadas várias e várias vezes e repensadas de tantas formas que se poderiam passar dias pensando nas atitudes que foram deixadas de lado e nas conseqüências e sub-consequências delas, e, por várias horas, todas parecem melhores e com mais sentido do que as que se está vivendo. momento #existencionalcrisisMODEON

É necessário, muitas vezes, rever as atitudes e mudar o caminho enquanto ainda se tem tempo, geralmente, quando existem muitos fatores que realmente importam como família, dinheiro ou bem-estar pessoal, porque ainda que mereça ninguém gosta de ser mau tratado.

A capacidade de mudança e de adaptação é uma conseqüência da curiosidade. Somos camaleões sociais. O que nos permite ser meio felizes em qualquer lugar. Temos que ter em conta que a felicidade é passageira e por isso não somos completamente felizes nunca.

A melhor forma de encarar as dúvidas e a insegurança, que surgem a partir da nossa curiosidade em saber como seriam as outras opções, é entender que a felicidade se deve encontrar no caminho a ser seguido e menos no objetivo a ser alcançado e que, sendo o homem inconstante , ele nunca desiste apenas troca de objetivos e prioridades. Pensando dessa forma o peso da vida diminui e se algo venha a falhar no meio do caminho a única frase que fica é “Pelo menos eu me diverti muito fazendo isso!”

“A curiosidade é a última paixão das pessoas velhas.”  P. Bourget


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